Ao longo do tempo, o açúcar vem desenvolvendo uma reputação de “vilão” em relação à nossa saúde. Temos relatado estudos e mais estudos associando o consumo de açúcar ao envelhecimento precoce, doenças cardiovasculares, obesidade e até câncer. Essas pesquisas levaram diversos especialistas em saúde ao redor do mundo, a pedir uma redução na quantidade diária recomendada do consumo de açúcar, com alguns dizendo que deveríamos cortar o açúcar completamente da nossa dieta. Mas ele é  realmente tão ruim para nossa saúde?

“AÇÚCAR É UM CARBOIDRATO CRISTALINO QUE CONFERE AOS ALIMENTOS UM SABOR ADOCICADO”

Alguns desses açúcares, como a glicose, a frutose e a lactose, ocorrem naturalmente nas frutas, legumes e outros alimentos. Mas muitos dos alimentos que consumimos com certa frequência contêm açúcares “adicionados”. Mesmo nos alimentos naturais é muito comum adicionarmos o açúcar para melhorar o seu sabor.

As fontes mais comuns de produtos industrializados que contém grande quantidade de açúcares adicionados incluem: refrigerantes, bolos, tortas, chocolate, bebidas de frutas e sobremesas. Uma única lata de refrigerante de cola pode conter até 7 colheres de sopa de açúcar, enquanto uma barra de chocolate, de tamanho médio, pode conter até 6 colheres de sopa.

Esses açúcares embutidos nos alimentos industrializados, têm sido citados como contribuintes para diversos problemas de saúde. Em dezembro de 2014, o Medical Nutrition Therapy – MNT relatou um estudo para revista Open Heart afirmando que açúcares embutidos nos produtos industrializados podem aumentar o risco de pressão alta mais do que o sódio. E em fevereiro de 2014, um estudo liderado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) associou o alto consumo de açúcar embutido com o aumento do risco de morte por doenças cardiovasculares.

“OS AÇÚCARES EMBUTIDOS SÃO FORTEMENTE ASSOCIADOS COM O AUMENTO SIGNIFICATIVO DA OBESIDADE”

Nos EUA, mais de um terço dos adultos são obesos, e a taxa de obesidade infantil mais do que dobrou em crianças e quadruplicou em adolescentes nos últimos 30 anos.

Um estudo realizado em 2013 e publicado no The American Journal of Clinical Nutrition, sugeriu que o consumo de bebidas adoçadas com açúcar, como os refrigerantes, aumenta o ganho de peso em crianças e adultos. Também, um outro artigo de revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) observa que o aumento do consumo dessas bebidas está correlacionado com o aumento da obesidade.
Estamos nos tornando viciados em açúcar?

Apoiando essas associações, temos o Dr. Robert Lustig, endocrinologista pediátrico da Universidade da Califórnia – São Francisco e autor do livro Fat Chance: The Hidden Truth About Sugar, que afirma que o açúcar é uma substância “tóxica” a que estamos nos tornando viciados.

Um estudo de 2008 realizado por pesquisadores da Universidade de Princeton, NJ, descobriu que ratos acostumados a uma dieta com alto teor de açúcar, apresentavam sinais de compulsão alimentar, desejo e abstinência quando sua ingestão de açúcar era reduzida.
Às pessoas tentadas pelo chocolate, o Dr. Lustig diz: “Precisamos nos desmamar. Precisamos “desadoçar” nossas vidas. Precisamos fazer do açúcar um deleite, não um grampo de dieta.” S

“PRECISAMOS FAZER DO AÇÚCAR UM DELEITE, NÃO UM GRAMPO DE DIETA”

Lustig disse ao The Guardian em 2013. “A indústria alimentícia tornou-se um grampo de dieta porque eles sabem que com açúcar as pessoas compram mais“, acrescentou. “Este é o gancho deles. Se algum fabricante de cereais sem escrúpulos adicionasse morfina no seu cereal de café da manhã para que você comprasse mais, o que você pensaria disso? Pois então, eles utilizam açúcar em vez morfina”.

Em seu popular blog, Goop, Gwyneth Paltrow cita o vício em açúcar como uma das razões pelas quais decidiu eliminá-lo completamente de sua dieta.

“O açúcar age no cérebro como vício, ativando o sistema de recompensa no cérebro da mesma forma que muitas drogas ilegais”, escreve ela. “O açúcar é basicamente uma droga socialmente aceitável, legal e recreativa, mas com consequências mortais.”

As estatísticas mostram que o Brasil é, certamente, um país de amantes do açúcar. E os níveis de consumo estão bem acima dos recomendados atualmente pela OMS, que afirmam que não devemos consumir mais de 10% das calorias diárias totais de açúcares “livres”, tanto açúcares de ocorrência natural quanto aqueles que são adicionados aos produtos industrializados.

Em 2013, no entanto, o MNT relatou um estudo do Prof. Wayne Potts e colegas da Universidade de Utah, alegando que mesmo o consumo de açúcar em níveis recomendados pode ser prejudicial à saúde, depois de descobrir que tais níveis reduziram a vida útil em camundongos.

ELIMINAR O AÇÚCAR DA NOSSA DIETA É A COISA MAIS SAUDÁVEL A SE FAZER?

A série de estudos relatando as implicações negativas do açúcar levou a OMS a fazer uma proposta de revisão de suas recomendações de açúcar em 2014. A organização emitiu uma minuta de diretriz afirmando que gostaria de reduzir pela metade sua ingestão diária de açúcar recomendada, passando de 10% para 5%.

O objetivo desta diretriz, é de fornecer recomendações sobre o consumo de açúcares livres no intuito de reduzir o risco de doenças não transmissíveis em adultos e crianças“, explicou a OMS, “com foco especial na prevenção e controle do ganho de peso e da cárie dentária“.

Além disso, parece que muitos especialistas em saúde, nutricionistas e até mesmo celebridades como Gwyneth saltaram em uma onda da “dieta sem açúcar”.

Mas é possível eliminar completamente o açúcar de uma dieta? E é seguro? A bioquímica Leah Fitzsimmons, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, disse ao Daily Mail:

“Cortar todo o açúcar da sua dieta seria muito difícil. Frutas, legumes, laticínios e substitutos lácteos, ovos, álcool e nozes contêm açúcar, o que restaria na dieta apenas as carnes e gorduras, o que definitivamente não é muito saudável.”

Muitas pessoas recorrem a adoçantes artificiais como uma alternativa ao açúcar, mas de acordo com estudos, esses adoçantes ainda podem impulsionar diabetes e obesidade.

“Juntamente com outras grandes mudanças ocorridas na nutrição humana, esse aumento no consumo de adoçante artificial coincide com o aumento dramático das epidemias de obesidade e diabetes”, observam os autores. “Nossas descobertas sugerem que adoçantes artificiais podem ter contribuído diretamente para aumentar a epidemia exata que eles próprios pretendiam combater.”